Líder da situação, 63 anos de idade, dos quais 35 anos dedicados à política, vereador há cinco mandatos, e por enquanto, nenhuma sinalização de que está cansado ou enfastiado com os deveres que a política oficial lhe incumbe. Esse é José Carlos Ribeiro da Silva, mais conhecido por todos em Cícero Dantas como Carlinhos, o terceiro parlamentar da série de entrevistas do Sertão em Pauta, que leva em conta a sequência por ordem alfabética.
O vereador recebeu a nossa reportagem em sua casa na manhã da última quinta-feira (30) para conceder a entrevista, na qual não faltaram assuntos para serem abordados com o vereador, que tem formação em contabilidade, mas atuou na área por menos de dois anos em Feira de Santana (BA). Filho de Pedrinho do Correio, importante liderança política dos anos 60 e 70 e vereador por duas vezes, Carlinhos é vereador desde 1997, tendo perdido apenas uma eleição até hoje e adentrar na carreira política foi inevitável para quem viu desde cedo o pai e o irmão se destacarem no meio, tendo este último formado o conhecido Grupo dos Gaviões.
Carlinhos, que também já teve sua esposa Jaciara vereadora na década de 1990, diz que para o próximo ano, pensa novamente em se candidatar ao cargo de vereador, mas não esconde o desejo de se tornar, um dia, o prefeito de Cícero Dantas, e inclusive diz estar à disposição do seu grupo para todas as possibilidades.
De perfil carismático, ele chama a atenção pelas brincadeiras que costuma fazer na Câmara com os colegas, com o intuito de amenizar o clima de animosidade que por vezes, é sentido na casa legislativa. Mas, apesar do estilo conciliador, ele não mede esforços para ver aprovadas as proposições e demandas do prefeito Ricardo na Câmara e tem se mostrado um grande aliado e defensor do executivo.
Na entrevista a seguir, ele fala sobre sua trajetória política, a gestão do Prefeito Ricardo Almeida (PP), os constantes embates com a oposição na Câmara, o seu irmão Zelito Ribeiro e as motivações que o fazem prosseguir na política.
Confira a entrevista concedida pelo parlamentar Carlinhos ao Sertão em Pauta:
Sertão em Pauta: (S.P.) – O senhor tem formação na área da contabilidade, obtida na década de 1970, chegou até a atuar nesse segmento, mas nos conte porque resolveu deixar de lado a carreira da contabilidade para entrar no meio político?
Vereador Carlinhos: (V.C) – Eu saio daqui de Cícero Dantas muito cedo, com 17 anos e fui morar em Feira de Santana. Lá eu concluí, o que naquela época era chamado de terceiro ano de contabilidade. Então, me formei por lá, onde trabalhei por um ano e pouco na área. Depois, Zelito Ribeiro, meu irmão, que também morava em Feira, voltou para Cícero Dantas e entrou para a política, e um tempo depois, eu votei pra cá, comecei a trabalhar e em seguida iniciei minha trajetória na política, onde estou até hoje. Então, foi uma influência da família, pois, quando eu tinha doze anos já via meu pai fazendo política … por sinal, ele chegou a ser vereador por duas vezes, dois mandatos, e na época dele, vereador nem salário tinha. E nesses 35 que tenho de política, eu estou nesse grupo, criado pelo meu pai e Zelito Ribeiro, com mandato ou sem mandato.
(S.P.) – O senhor falou agora de 35 anos de atuação política. Mesmo com essa influência familiar, se não tivesse prazer pela atividade política com certeza já teria concluído a sua trajetória. O que te faz ter esse gosto pela política?
(V.C) – A política é uma coisa, como se diz, que nasce no sangue; no meu caso, eu já nasci vendo o meu pai na política, e então fui tomando gosto pela política, e a gente iniciou a carreira, foi dando os primeiros passos, até continuar a até hoje, portanto, a gente esqueceu um pouco a vida pessoal para entrar na política. Você sabe que a vida política no interior é corrida, então, como eu disse, fui tomando gosto e continuo ainda hoje.
(S.P.) – O Vereador Carlinhos é líder da situação, e talvez a maior referência para o prefeito Ricardo Almeida no legislativo. Como que o senhor tem avaliado a gestão do prefeito que tem sido muito criticada pelos opositores, nesses dois anos e meio de mandato?
(V.C) – A oposição está fazendo o seu papel a sua obrigação, que é a de fiscalizar e fazer as suas críticas. Apesar de existirem alguns problemas, como a limpeza das ruas e a manutenção de estradas vicinais, eu estou vendo Ricardo muito esforçado … diga-se de passagem, a gente ouve algumas reclamações, porém, ele tem se esforçado e conseguido muito êxito na gestão, e esperamos que consiga muito mais. É um rapaz novo, advogado … agora mesmo, com essa abertura do centro cirúrgico e a reforma feita no hospital, o povo já tem conseguido alguma coisa. Além disso, ele é um prefeito que tem conseguido muitas obras para Cícero Dantas através de convênios e também com recursos próprios do município. Então, hoje, a gente sabe que a coisa não anda muito boa, mas ele vem fazendo um trabalho razoável, espero, inclusive, que ele venha a melhorar, pois essa é a tendência daqui pra frente.
(S.P.) – O senhor disse agora que a coisa não anda tão boa, mas em que sentido é que a situação não está tão boa assim para o município?
(V.C) – Não está tão boa assim, em termos, porque a gente vê os adversários fazendo críticas. A gente ouvia das pessoas reclamações, muito antes desse hospital funcionar e das obras aparecerem. Mas, agora, elas já diminuíram, e a partir desse hospital, funcionando do jeito que tá, fazendo operações, partos cesáreos e normais a coisa já vem melhorando. Então, antes disso, o hospital não funcionava direito e as obras não apareciam. Portanto, hoje a coisa está começando a fluir com obras muito importantes, como as do Povoado Caxias e outras na sede, como a inauguração de posto de saúde, pois só temos dois anos e poucos meses, e como os primeiros anos são acanhados e vai se pegando o gosto, agora começou a melhorar, a partir desses primeiros serviços que o prefeito começou a fazer na cidade.
(S.P.) – Ricardo Almeida está em seu primeiro mandato como prefeito e titular de um cargo. Ele em algum momento tem te procurado, já que o senhor possui muito mais experiência? Ele busca os mais experientes do grupo para receber orientações ou sugestões? Como é essa relação?
(V.C) – Olha, ele é um rapaz jovem, ele tem procurado muito a gente, conversado com os vereadores do grupo e comigo. A gente procura, sempre, conversar um pouco, e ele sempre vem se orientando, e “tô” sentindo que ele está caminhado bem.
(S.P.) – O senhor acredita que ele, como político jovem, possui essa capacidade de dialogar, receber as críticas e ouvir sugestões?
(V.C) – Ele ouve críticas, aceita, dialoga e faz as ponderações. Está começando agora e espero, que no futuro, ele até venha a ter mais acessibilidade junto ao povo, pois é uma coisa que ele deve buscar mais, visitar mais as comunidades e ter um contato maior com o povo. Mas, por ser um rapaz jovem e estar começando agora a sua carreira política, tendo apenas um mandato de vice e o atual de prefeito ele tá indo muito bem; e conversando com nós vereadores, ele nos ouve, mas cada um tem as suas decisões, e a última decisão é sempre dele.
(S.P.) – A vereadora Aderian, que é da situação, falou na entrevista que concedeu ao nosso site, que em alguns momentos falta diálogo à gestão. O senhor, então, não concorda com essa afirmação.
(V.C) – Ela pode sentir isso, mas comigo se tem diálogo, muitas vezes há reuniões aqui em casa e nós convidamos a todos e todos aparecem, inclusive a vereadora Aderian. Agora, infelizmente, não se pode ser atendido tudo que se quer e as pessoas, às vezes, ficam sentidas porque fazem várias indicações ao prefeito e ele não pode atender; embora, eu já seja mais maleável … coisas que falo com ele e que não podem ser atendidas, eu aceito e vou esperando, pois mais pra frente o prefeito vai atendendo a gente aos poucos, e as coisas vão acontecendo.
(S.P.) – Como líder da situação na Câmara, o senhor recebe muitas críticas de vereadores opositores, algumas até bastante incisivas. Como lidar com isso, como recebe as contestações da oposição?
(V.C) – Como já falei, as críticas da oposição são normais, e a gente por ter uma experiência de vários mandatos, recebe como uma construção. Temos que receber as críticas e procurar naquele ponto que eles estão criticando. Então, é isso que tenho feito, tenho conversado com o prefeito e ele tenta melhorar no que pode, mas a gente percebe também que nunca dá para agradar a oposição 100%; quanto mais se faz, mais eles querem e cobram. E aí, eu como líder do prefeito recebo aquelas críticas, e muitas vezes vou pra tribuna e faço eles rirem pra quebrar um pouquinho o gelo.
(S.P.) – O seu irmão, Zelito Ribeiro, é sem dúvidas uma das maiores lideranças políticas da região e é considerado o maior cabo eleitoral de Ricardo Almeida na eleição de 2016. Existe alguma possibilidade de que Zelito venha a rachar a aliança e lançar candidatura própria no próximo ano?
(V.C) – Olha, eu não vejo essa possibilidade. A gente se uniu na eleição passada, pois Ricardo já era amigo nosso antes das eleições. Então Zelito votou nele. Zelito já foi candidato outras vezes e eu já o estou sentindo com um pouco de idade para querer participar de campanha. Mas, eu não posso falar por ele, quem tem que responder é ele. No entanto, eu não vejo essa possibilidade porque até então, está todo mundo unido e caminhado tudo em uma direção só. Vai depender muito daqui pra gente, ne? Mas, não vejo essa possibilidade não, vejo é todos caminhando juntos e espero que isso continue até o fim.
(S.P.) – Os municípios do interior do Nordeste, do porte populacional de Cícero Dantas tem sofrido muito com problemas de destinação de verbas pelo Governo Federal e Estadual. Como vê o trabalho do prefeito perante essas dificuldades financeiras que são comuns a vários municípios, atualmente?
(V.C) – Nós temos visto, ultimamente, Ricardo indo muito à Brasília para angariar recursos e verbas, e ele está conseguindo. Então … nós sabemos que as dificuldades são de todos municípios pequenos e pra compensar esse problema das verbas que são poucas e insuficientes ele tem ido muito à Salvador e Brasília, onde tem conseguido alguma coisa para suprir as faltas.
(S.P.) – Queria que nos falasse se possui alguma referência política que lhe inspire, algum líder regional ou nacional que te influenciou em sua trajetória.
(V.C) – Olha, quanto a isso, vou falar mais regionalmente. Eu me inspirei muito em meu pai, que foi vereador em dois mandatos, então estou seguindo a carreira com aquele pensamento que ele tinha. Então, essa é a referência maior, são os pensamentos dele que gosto de seguir.
(S.P.) – Para finalizar, o senhor falou quando da chegada da reportagem em sua casa, que apesar dos 35 anos na política ainda sonha em ser prefeito. Uma candidatura a esse cargo já pode surgir agora ou em 2020, ou ainda pode esperar mais um pouco?
(V.C) – Todo político sonha em dar voos mais altos. Então, comigo não seria diferente, por isso, eu estou aqui à disposição. Agora no momento, eu ainda penso em ir para a disputa de reeleição para vereador, mas se o grupo achar que eu devo dar um voo mais alto para vice-prefeito ou até mesmo para prefeito, em combinação com todos do grupo, eu estarei à disposição para o que precisarem de mim. Mas, de imediato, penso na reeleição para vereador (…) mas, o sonho (ser prefeito) existe, e não vai morrer tão cedo.
A próxima entrevistada da série do Sertão em Pauta com os vereadores de Cícero Dantas é Eugênia de Evangelista (PT do B).