Membros da atual gestão buscam alinhamento com grupo dos Jacus, diz vereador Jackson Almeida

Em entrevista ao Sertão em Pauta, vereador da oposição faz críticas à gestão do prefeito Ricardo e fala sobre as articulações para eleição de 2020, em Cícero Dantas
Jackson Almeida
Reprodução/MP-BA
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Dando continuidade à série de entrevistas que o Sertão em Pauta tem feito com os vereadores do município de Cícero Dantas (BA), hoje publicamos a entrevista que fizemos com o vereador Jackson Almeida (MDB), parlamentar da oposição, em seu segundo mandato e um dos postulantes do grupo dos Jacus à candidatura a prefeito no próximo ano.

Empresário com negócios em diferentes segmentos na região e ex-presidente do Conselho Comunitário de Segurança Pública (CONSEG) Jackson tem, relativamente, uma trajetória curta na política. Foi eleito em 2012 para o primeiro mandato como vereador, depois de um convite surpresa do então prefeito Weldon, e pôde viver a experiência de ser líder do prefeito Helânio Calazans na casa legislativa.

Graduado em Administração e Tecnologia e Rede de Computadores, e hoje em posição de minoria no parlamento, ele é um dos críticos mais obstinados à gestão do prefeito Ricardo Almeida (PP) a quem atribui falta de pulso e uma gestão desorganizada.

Ao longo da entrevista, Jacskon, que já revelou não ser mais candidato a reeleição para vereador, fala sobre sua inserção na política oficial, a influência de sua trajetória enquanto empresário na vida pública, as articulações do agrupamento político do qual faz parte e afirma que pessoas que hoje compõem a atual gestão de Cícero Dantas já manifestaram interesse em migrar para a oposição.

Confira a seguir, a entrevista completa feita pelo Sertão em Pauta com Jackson Almeida:

Sertão em Pauta – (S.P.): Primeiro, vereador, gostaria de saber como se dá a ideia de inserção na política oficial de Cícero Dantas?

Jackson Almeida – (J.A.): Antes de me candidatar a vereador, em 2012, eu não possuía envolvimento político com o município. Historicamente, sempre tivemos dois grupos aqui na cidade, mas eu não me envolvia muito, apenas era empresário. Só que quando Weldon foi eleito prefeito em 2008, ele me chamou a uma reunião, na qual pediu que eu ajudasse no processo de revitalização da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) para fazer a movimentação de adesão de sócios, pois na época, a organização estava com um pequeno número de sócios regulares, e foi inclusive, quando Cidney foi eleito presidente. Depois disso, em um outro momento, surgiu uma juíza aqui no município, solicitando a criação de um conselho de segurança, e aí como eu tinha um envolvimento social, Weldon me chamou para fazer parte da comissão provisória que criaria o CONSEG. E em 2010, fizemos a eleição, na qual8 fui eleito o primeiro presidente do conselho. Então, eu não tinha um foco político nas cosas que fazia, seja no conselho de Segurança, na CDL ou mesmo enquanto na direção do Clube de escoteiros daqui. Mas aí, quando foi em 2012, nas vésperas da eleição recebi uma ligação do prefeito Weldon me convidando para ser candidato a vereador.  Eu disse que nem era filiado, mas ele me respondeu dizendo que era sim, que ele havia me filiado ao partido dele, o PP. Assim, após conversar, eu topei me candidatar. A partir deste momento, é que realmente entrei com o pé na política. Nem chegou a haver uma preparação para mim ser candidato, não houve nada estruturado antes. O que existia era o envolvimento social, e isso proporcionou um a visibilidade que tornou possível a eleição. Foi uma campanha muito difícil porque foi de última hora e aí acabei usando o norral de empresário, utilizando muito marketing, pois já lidava com marketing na empresa há muitos anos. E outra coisa que me ajudou, foi o fato de que muitas pessoas já me conheciam pelo trabalho na área de informática e na de academia e confiavam em mim, além do apoio dos membros da CDL e dos comerciantes em geral.o

(S.P.): Nesse período de seis anos e meio enquanto vereador, acredita que, há mais momentos bons ou ruins para lembrar da experiência na atividade legislativa?

(J.A.): Se você analisar pelo aspecto técnico o saldo é muito positivo, porque já no primeiro ano de mandato eu pude participar de várias comissões importantes. Assumi a presidência da Comissão de Constituição e Justiça, fui relator de outras comissões importantes na casa, e por minhas mãos já passaram projetos de grande relevância como o projeto tributário, que gerou muita polêmica na época, do qual, inclusive, fui relator e o do concurso público, em que eu fui membro da comissão de controle, junto ao Ministério Público e Washington (hoje secretário de Infraestrutura, e à época vereador), que validou e acompanhou a realização do certame. Então, passei por momentos muito importantes no parlamento, alguns projetos de minha autoria foram aprovados como o fim da reeleição da mesa diretora. Também cheguei a protocolar por três vezes um projeto para o fim do voto secreto, e só na quinta vez, já com a presidente Aderian o apresentando, ele passou. Além disso, tenho hoje alguns projetos que estão tramitando nas comissões, e por questões de agenda, o presidente ainda não colocou para votação; possivelmente, o parecer ainda não deve ter sido feito. Então, o que me deixa triste na Câmara, é que há uma tentativa de todo mundo de se sobressair; é natural que todos queiram seu nome em destaque, mas muitas vezes isso impede que projetos importantes tramitem de forma adequada. O lado político, muitas vezes, se torna cruel. Na Câmara nós temos exemplos de vereadores que se elegeram por uma bancada e no mês seguinte, já estavam na oposição, porque nós perdemos a eleição majoritária. Esse tipo de característica é muito ruim para o parlamento, pois a política se torna algo de interesse pessoal. Aliás, uma coisa que desejo muito para o legislativo municipal é a renovação, acho que uma renovação de 50 a 60% seria salutar para o desenvolvimento da cidade. Isso é um fator fundamental para o parlamento melhorar; e também acho que não cabe mais vereadores que não tenham uma formação, uma graduação ou que não tenham o mínimo de conhecimento. Tem vereadores que não possuem nem uma leitura adequada; já acabou o tempo da política da ajuda, do assistencialismo, isso não resolve o problema do município.

(S.P.): O senhor não teme que esse tipo de afirmação, de que não há mais espaço para pessoas sem uma determinada capacidade intelectual, seja visto como uma fala preconceituosa?

(J.A.): Eu não entendo como uma fala preconceituosa, pois se hoje, você vai participar de um concurso público é necessário, ter no mínimo, o nível médio concluído. Se você, então, disputa uma vaga em um concurso que oferece uma oportunidade melhor, se exige o nível superior. Em um parlamento municipal, tratamos de leis, que inclusive, podem destruir uma cidade. Então, quando você pega a composição de uma Câmara (…) não é o nosso caso, graças a Deus, mas eu conheço algumas cidades vizinhas que tem vereadores sem leitura alguma, e praticamente só têm o conhecimento para passar no teste para ser candidato. Por isso, qual a capacidade que um vereador desse tem de entender as entrelinhas de uma lei? Muitas vezes, a gente recebe leis que vêm do executivo ou de um vereador com pegadinhas perigosas. Às vezes não é nem intencional; o colega copia o trecho de uma lei de uma outra cidade, para usar como referência, e não percebe que pode haver uma pegadinha em uma palavra mal colocada ou com duplo sentido, e você pode interpretá-la de várias formas e isso pode ser danoso à própria sociedade. A gente está passando por isso agora no município, no caso da lei dos triênios para os funcionários públicos está sendo questionada por conta de um artigo que está inadequado, só pelo fato de a nomenclatura estar errada, essa lei está sendo considerada inconstitucional. No século XXI, de fato não cabe, e não é preconceito.

(S.P.): Queria saber agora, como a sua trajetória empresarial e sua formação acadêmica influenciam na sua atuação parlamentar.

(J.A.): Quanto à vivência que tenho como empresário, de lidar com pessoas, compras, vendas e marketing, a gente tem que ser muito técnico, tomar decisões pensadas e mais racionais. Na política, vejo que muitas vezes, as decisões são emocionais. Quando cometemos o erro de agir de forma emocional, enquanto empresários, podemos ter prejuízos irreparáveis. Conheço empresas que quebraram por causa disso. A política (…) é óbvio que ela não quebra, mas uma decisão errada pode trazer um sério dano à população. Então, toda decisão, que tenho que tomar, eu analiso sempre com um olhar mais técnico (…) é claro que também tem o lado emocional, pois na política é preciso olhar o lado do mais fraco e entender que a política não é para dar lucros, mas para garantir o bem comum. Então, quando analiso uma lei de forma técnica, levo em conta se ela beneficia um grande número de pessoas ou todos da cidade. A única coisa que é ruim no legislativo municipal, é que não podem ser criados projetos de lei que gerem custos para o executivo, por prerrogativa da nossa lei máxima, que é a Constituição Federal, então isso limita bastante o nosso leque de apresentações, nos levando a protocolar muitas indicações, que são avaliadas pelo executivo e transformadas em projetos de lei. Uma análise técnica ajuda muito, até porque você enxerga a longo prazo, como foi no caso do projeto tributário, em que a maior discussão envolvia aspectos técnicos, de como fazer o município não perder arrecadação, sem aumentar a carga em cima da população.

(S.P.): Seu nome tem sido apontado como um dos possíveis, dentro do grupo dos Jacus para a eleição majoritária de 2020. Na sua opinião, o que te leva a ser um dos favoritas para essa indicação dentro do agrupamento?

(J.A.): Veja, são vários fatores que levam o meu nome a ser ventilado. Primeiro, o trabalho que tenho feito dentro da política, de prezar pelos valores da honestidade e da fidelidade aos meus princípios e amigos, de não trair ninguém. Além disso, alguns comentários sugerem também a possibilidade de Weldon e Helânio, membros mais antigos do grupo, estarem impedidos de se candidatar. Mas, acho que um dos elementos mais importantes é o momento que a gente está vivendo. Nós vimos na eleição, um jovem advogado se candidatando a prefeito, e era um camarada em que as pessoas viam uma candidatura promissora, e eu estou percebendo que as pessoas estão cansadas de optar sempre pelos mesmos nomes, elas estão buscando alternativas, querem algo novo, diferente. E é óbvio, que eu não sou tão velho na política, estou apenas no meu segundo mandato como vereador. Há também o lado empresarial, que afeta muito na decisão dessas pessoas, pois elas notam que o município precisa de um gestor. Ao longo dos anos, elas perceberam que só um político não resolve os problemas do município, tem que existir alguém mais técnico, com capacidade mais aprimorada de gestão, e acho que esse é o ponto que tem levado as pessoas a indicar meu nome. Elas sabem que sou um gestor, que quando cheguei no município comecei do nada, e hoje temos uma das empresas mais bem sucedidas da nossa região.

(S.P.): E como é que está o trabalho de articulação, hoje, para que o seu nome venha realmente a ser o escolhido pelos Jacus?

(J.A.): Uma coisa que já está com o martelo batido quanto à escolha do nome pelo grupo, em reuniões que já tivemos, é que nós todos estamos unidos. Isso já é página virada. Houveram algumas reuniões com todas as lideranças políticas, e ficou definido que iremos marchar juntos. O que não foi escolhido ainda é o nome do candidato, até porque seria injusto não analisar o nome de todos. Hoje, nós temos, pelo menos, quatro nomes que estão sendo ventilados, nenhum deles tem posição na chapa ainda. No meu caso, por exemplo, eu posso ser candidato a prefeito ou a vice, o mesmo cenário vale para os outros. Na verdade, agora, acho que o mais importe nem é definir o nome, mas sim o perfil, saber qual perfil o povo quer para o próximo gestor. Nós temos alguns perfis diferentes em nosso grupo, e a gente vai ouvir a população, fazer pesquisas e realizar visitas a outras lideranças que ainda não foram consultadas para chegarmos no nome. O que a gente tem de certo é que a nossa candidatura vai ter o foco em uma política de gestão e organização do município, porque infelizmente, a gestão atual pecou muito feio nisso. Hoje, a gestão tem deixado o município desgovernado, envergonha o município. Em todo o lugar que andamos, nas cidades vizinhas, os prefeitos e políticos vizinhos tiram o maior sarro da nossa cidade, e isso a gente não quer para o futuro. Então, o meu nome cresceu um pouco, por causa disso, mas nós temos lideranças extremamente fortes como Weldon, Helânio, Nininho e Nenê e a gente não pode deixar de fora o nome de ninguém. A gente quer trabalhar para no início do ano já ter uma chapa consolidada. Inclusive, já há conversas de bastidores, de pessoas ligadas à gestão atual buscando alinhamento para uma candidatura e tem outros candidatos ventilados do nosso município que não são da nossa base, mas também conversam conosco sobre a possibilidade de uma aliança.

(S.P.): Quando você fala em “pessoas ligadas à atual gestão”, se trata de assessores e secretários?

(J.A.): É isso, pessoas ligadas à gestão, mais próximas da gestão que tem conversado querendo saber se a gente tem abertura para uma composição. Nosso grupo deve ter, provavelmente, no final do mês, uma reunião maior do que as que já tivemos, em que já devem surgir os primeiros nomes para vereador, a gente tem muitos nomes bons e empolgantes vindo para vereador. Além disso, tem pessoas que já fizeram parte de nosso grupo, e agora pertencem à situação, mas estão conversando com a gente para retornar. Para que fique claro, não estou nem falando nem em vereadores, mas de pessoas que poderiam ser candidatas ao legislativo e de lideranças comunitárias.

(S.P.): Em entrevista ao nosso site, há pouco mais de dois meses, o vereador Nenê falou que boa parte das famílias que apoiaram o prefeito Ricardo no último pleito não apoia mais ele e que os Jacus viriam muito fortes para 2020. O senhor acredita que o grupo dos Jacus chega como favorito para a próxima eleição?

(J.A.): Olhe, não gosto muito desse negócio de favorito. Eu gosto muito de meritocracia, então, baseado nisso eu não posso dizer que a gente é favorito. Na verdade, favorito é o prefeito, que está na gestão. Não gosto desse termo, pois dá a entender que somos imbatíveis, mas isso ninguém é. A gente vai construir uma campanha para conseguir ser vitorioso. A gente tem conversado com algumas pessoas que votaram declaradamente em Ricardo, elas procuram a gente dizendo que estão conosco e votarão em nosso grupo.

(S.P.): Falando agora sobre a gestão do prefeito Ricardo, queria que você falasse quais os principais pontos negativos de seu mandato e também quais aqueles que você poderia citar como positivos.

(J.A.): Logo no início do mandato nosso grupo se reuniu e fez uma combinação de que nós não faríamos absolutamente nada para prejudicar a gestão dele, de não interferir negativamente na gestão dele. O Brasil vem passando por uma crise, e o município também vem sendo afetado e nós não gostamos de perseguição política por antecipação; pagamos para ver e esperamos a gestão acontecer. Então, no primeiro ano e meio da gestão dele não houve nenhuma denúncia sequer. Mas, logo no primeiro semestre, a gente viu a gestão dele desmoronar, pois foi prometida a realização de algumas coisas, especialmente muita transparência, obras e empregos, e acabou desmoronando sozinha pelo fato de não conseguir ser transparente, é uma gestão que oculta muitas informações. Quem fiscaliza, não consegue encontrar coisas que procuramos para comprovar. O mandato dele se perdeu muito em termos de gestão, levando a uma crise muito grave com funcionários sem receber por vários meses, e nos levando a ameaçar abrir uma CPI para que a situação fosse regularizada. Hoje, esse problema atinge os fornecedores, além de pessoas que realizam o transporte escolar e não têm sido remuneradas. Tem também a questão da limpeza pública da cidade, totalmente desestruturada e própria manutenção do calçamento que nos primeiros dois anos teve recursos no valor de R$ 1,5 milhão só para tapar buracos, e no entanto, a cidade hoje é um buraqueira só. Em todo canto que você anda há uma rua deteriorada, um esgoto estourado, um calçamento depredado ou o asfalto esburacado, sem falar na tentativa de se abrir um hospital, e ele ainda não está aberto de fato, está com sérias dificuldades de funcionamento. Então, com tudo isso, a gente tem muito mais pontos negativos da gestão do que positivos. Para você ter ideia, a prefeitura recebeu todo o maquinário de carros-pipa, patrol e retroescavadeiras funcionando, e hoje essas máquinas se encontram sucateadas, e as estradas do município não possuem nenhuma condição de tráfego. Olho isso com muita tristeza, não como vereador de oposição, mas como empresário que também sofre na pele o impacto da crise de uma cidade que está em prantos. Sem falar, que até hoje não vi um obra dele para dizer que começou e terminou no mandato.

(S.P.): E você pode citar algum ponto positivo da gestão?

(J.A.): Positivo … de positivo tem que pensar muito para achar. De positivo, sinceramente, eu não consigo enxergar fácil para lhe falar rapidamente. Sendo sincero, não posso falar para você, que vejo, de pronto, um aspecto positivo.

(S.P.): O senhor já disse nessa entrevista que na campanha passada, via o candidato Ricardo como um político promissor, talvez por ser uma pessoa jovem e com formação acadêmica. Mas na sua opinião, porque ele te decepcionou?

(J.A.): É complexo afirmar isso, pois a gente não tem todos os dados para fazer uma análise melhor sobre isso, embora tenhamos alguns indícios. Eu citei que ele foi eleito visto como alguém promissor, mas apesar de ele ser graduado, a formação dele não é na área necessária. Ele é graduado em uma área, que basicamente não mexe com gestão. Por isso, talvez tenha faltado maior conhecimento de gestão, por parte dele. Outro ponto seria a escolha do secretariado, que desde o início é um dos maiores motivos de crítica ao seu mandato. Até tem muita gente capaz no secretariado, mas que está na área errada, e isso ocorre por favor político. No entanto, há outros secretários e assessores que são totalmente despreparados e só pensam no seu umbigo e não compram a camisa da gestão. Por fim, uma das maiores trapalhadas dele, foi ter iniciado a gestão pensando em reeleição; isso para mim, é uma das coisas mais graves em um gestor. Quando você inicia um mandato já pensando em ser reeleito, você acaba fazendo muitas concessões; tem famílias aqui com todos os integrantes empregados. Sempre digo que Ricardo só agrada 3% da população, e os outros 97% ficam chateados, porque tem famílias com salários melhores que os dos servidores concursados. Alguns funcionários ganham salários dobrados por comissões, só por causa do lado político; em compensação, ele briga para tirar o direito do professor, para tirar triênios e direitos adquiridos. Se ele pensa em gestão, em fazer os quatro anos e pronto, talvez estivesse em uma condição melhor.

(S.P.): Então, vamos falar agora, de um cenário hipotético, em 2021, com o senhor eleito. Como iria lidar com as pressões que certamente, irão existir, de pessoas do seu grupo por indicações e nomeações?

(J.A.): Eu acho que isso não começa na gestão, é importante que fique claro já na combinação da campanha, na pré-campanha. Não podemos admitir, no século XXI, que o gestor não implemente uma gestão moderna. E em uma gestão moderna é preciso ter pessoas capazes em cada área. É o médico sendo médico, o engenheiro sendo engenheiro e o pedreiro sendo pedreiro. O que não dá é colocar uma pessoa em uma secretaria da qual ela não entende nada, simplesmente por ela ser sua amiga ou aliada política.

(S.P.): Você não teme perder força política com esse tipo de conduta?

(J.A.): Acho que não dá para perder força com esse tipo de atitude porque você vai colocar para os seus apoiadores, que eles podem indicar os nomes, desde que não sejam inadequados. Se é adequado, não tem porque você não nomear. E para isso, o gestor precisa ter pulso, e pulso é uma das coisas que mais cobram de Ricardo; o prefeito tem que mandar na gestão. Na verdade, o gestor também precisa estar presente no município, ele precisa andar pelo município, não pode confiar apenas na palavra do secretário, tem é que estar com o secretário. E acho que uma coisa importante do próximo gestor é a qualificação do servidor público, que hoje é depreciado. Para se ter uma ideia, já ouvi várias vezes, de aliados do prefeito, que a praga do município são os concursados.

(S.P.): Existe hoje uma onda em todo o Brasil, que prega o enxugamento dos gastos da máquina pública com a administração pública, e por conseguinte, com os servidores públicos. Você acha que esse também é o caminho para Cícero Dantas?

(J.A.): Aí é onde está toda a questão. Enxugar a máquina é necessário, pois se você não tem dinheiro sobrando para fazer uma obra ou uma situação emergencial, você não consegue gerir. Só que existe uma confusão hoje, quando se fala em enxugamento da máquina. O pessoal acha que enxugar é perseguir e diminuir o salário dos servidores, quando na verdade é o contrário. É preciso elaborar ou implementar, onde já existe, o plano de carreiras adequado exigindo que o servidor faça a função pela qual ele passou no concurso. Hoje nós temos um problema, pois professores, por exemplo, passam em concursos, mas ao longo do ano não são qualificados, e a obrigação de qualificar é do município. Você não precisa aumentar o número de vagas, mas é preciso elevar a qualidade, e toda empresa sensata aumenta a capacidade de produção de seu funcionário. Então, o gestor deve se preocupar em ter seus servidores bem tratados, que eles saibam exatamente o que fazer, já que é a sociedade quem precisa se beneficiar da qualidade do serviço público. Uma coisa extremamente importante de as pessoas saberem é que os vereadores são extremamente sobrecarregados, pois quando o hospital e os PSFs não funcionam, as demandas de saúde chegam para gente. Então aparece uma pessoa que precisa ir à Salvador ou à Ribeira do Pombal, e nós acabamos tendo que investir nesse processo, gastamos com isso; e apesar de alguns vereadores se beneficiarem, isso não é bom para o município. O segredo da próxima gestão está na qualificação profissional dos funcionários e no enxugamento de custos. E para se enxugar custos (…) por exemplo, temos a frota de veículos municipal, da qual não temos controle de combustível, não sabemos onde os veículos rodam, como rodam e para quê; não há transparência nisso. Recentemente, eu pedi ao Detran que faça uma perícia nos carros da prefeitura e isso não acontece. Que tipo de gestão é essa, que não deixa transparentes os carros. Então, você não sabe se os custos estão caindo pelo ralo, enquanto na gestão passada o recolhimento do lixo e a limpeza do município custava R$ 150 mil com três empresas envolvidas, hoje nós temos uma empresa que usa R$ 270 mil, e no entanto, o município está mais sujo; na verdade, a gestão precisa ser organizada. Você me perguntou um ponto positivo (…) no início do mandato do prefeito Ricardo houve uma tentativa de organizar isso, mas para ser positivo, teria que ser algo duradouro.

(S.P.): Finalizando, queria que o senhor me falasse se possui alguma referência política para a sua atuação na vida pública como parlamentar ou presidente do CONSEG.

(J.A.): Na verdade, como toda a população, eu ainda mantenho minhas análises mais do lado pessoal do que do político. Olho algumas lideranças do passado, como Ulisses Guimarães e outros desse vulto, mas atualmente, não consigo enxergar, no panorama nacional, um nome que seja ideal, um camarada admirado por todos.

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