A deputada estadual Fátima Nunes (PT), 67 anos, em seu quinto mandato como parlamentar na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) passou a vivenciar nas últimas semanas uma situação inédita em sua longa trajetória política: as sessões deliberativas das quais sempre participou presencialmente, no prédio do legislativo, em Salvador, agora estão ocorrendo por videoconferência, na tela do computador de sua casa.
O cenário totalmente diferente do qual não só ela, mas todos os baianos, foram habituados, surgiu em decorrência da pandemia do novo coronavírus, que desde meados de março atingiu o estado e principalmente, a capital, com mais de 930 casos até o momento e 31 mortes.
Por conta das medidas de prevenção, Fátima e outros 62 deputados passaram a se “reunir” virtualmente desde 23 de março, para votar projetos considerados essenciais ao enfrentamento e à mitigação dos efeitos da presença da Covid-19 no estado.
Na entrevista a seguir, concedida com exclusividade ao Sertão em Pauta, a deputada fala sobre como tem sido o trabalho virtual, os projetos que foram aprovados na Alba e as suas indicações. Além disso, ela elogia a atuação do governador Rui Costa (PT) e também aborda o tema do coronavírus no cenário nacional, manifestando o seu descontentamento com a forma como o presidente Bolsonaro lida com a atual crise.
Confira a entrevista completa, a seguir:
Sertão em Pauta – (S.P.): Desde o final de março, quando os números da Covid-19 começaram a crescer na Bahia, a Assembleia Legislativa decidiu por realizar sessões virtuais, que em sua grande maioria, são focadas em medidas relacionadas à própria doença. Para a senhora, quais as principais iniciativas que os deputados conseguiram aprovar nos últimos dias e que podem ser vistas como essenciais no combate ao novo coronavírus e aos seus impactos na economia e na vida da sociedade baiana?
Fátima Nunes – (F.N.): Ao estarmos em casa, não significa que não estamos trabalhando pelo povo baiano. Por isso mesmo, já aconteceram cinco sessões remotas ordinárias e uma extraordinária, que foi no sábado. Nestas sessões, nós aprovamos os projetos enviados pelo Poder Executivo. O primeiro deles foi criando o estado de calamidade para toda a Bahia, o segundo foi a votação dos decretos de calamidade por cada município, dos prefeitos que enviaram os seus projetos e que naturalmente continuam enviando e vamos votar ainda nessa semana.
Outra coisa importante que nós aprovamos foi a autorização para o governo fazer os pagamento de valores pequenos para empresários que estão com pendências. Na terça, votamos também o projeto de lei que assegura o vale-alimentação a 800 mil estudantes, de recursos provenientes da merenda escolar.
Além disso, apresentei três indicações: uma, para o aproveitamento de alguns prédios a exemplo do Hotel de Cipó ou de quadras esportivas, equipamentos que existem nos nossos municípios do Semiárido Nordeste II para a instalação de um hospital de campanha para aumentar a oferta de leitos, embora o governador tenha anunciado uma UPA, que será implantada no Distrito do Jorro, em Tucano e também os leitos de hospitis em Paulo Afonso.
Mas, ainda assim, prevendo as emergências e o aumento considerável e ouvindo a população, também indiquei esse hospital de campanha. E tendo em vista que o pólo de produção de roupas, cama, mesa e banho do Distrito de Lagoa Redonda, em Itapicuru, está com as atividades paralisadas, esse pólo poderia ser transformado para a produção de máscaras, já que toda casa daquelas mulheres lá tem uma máquina de costura industrial.
E outra indicação que fiz, é que equipamentos como máquinas de costura do Programa Vida melhor, da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, possam ser repassados aos CRAS dos municípios para as pessoas trabalharem fabricando máscaras, a exemplo do que já acontece na cidade de Adustina, onde o prefeito Paulo Sérgio autorizou o CRAS trabalhe diariamente fabricando máscaras.
(S.P.): Como a senhora está vendo o peso da crise do coronavírus nas economias dos municípios do Semiárido Nordeste II? Futuramente, o legislativo estadual pode vir a propor alguma política que venha a servir de suporte financeiro para essas cidades que já estão tendo as suas contas públicas comprometidas?
(F.N.): É claro que com as pessoas no isolamento social, e o comércio e as empresas fechadas já há um mês e sem a perspectiva de quando retornarão às atividade, a economia cai consideravelmente, porque as pessoas não estão comercializando e produzindo. Algumas fábricas estão com sua capacidade reduzida por falta do pessoal que está em casa, mas a gente sabe que em primeiro lugar precisamos garantir a vida, pois quando passar a pandemia, as pessoas, estando vidas, vão novamente trabalhar na agricultura, indústria, prestação de serviços, lazer e em todas atividades da vida humana, e logo logo se levantarão.
Claro que com outro penamento, com outro jeito de lidar com a natureza. Porque o que a gente vinha observando era uma ganância por lucros e mais lucros. Lucros exatamente marcados por uma desigualdade social, onde o topo da pirâmide tinha milhões e o restante trabalha pra sobreviver. De tudo isso se tirará uma lição para se repensar uma forma de sociedade, em que as pessoas possam viver com mais dignidade, trabalhando e produzindo para o seu sustento, com menos ganância. Eu penso assim.
(S.P.): Quanto ao governador Rui Costa, qual a avaliação que a senhora faz de sua atuação até o momento nessa crise?
(F.N.): O nosso governador tem sido enérgico, combativo, corajoso e está trabalhando diariamente para minimizar os efeitos da pandemia, tanto na atenção à saúde, com a implantação de hospitais, UPAs e aquisição de equipamentos e insumos, como também com o ordenamento da sociedade. A cada semana, votamos uma lei, que de certa forma, determina que as pessoas fiquem em casa, usem a máscara, só saiam de caso se houver necessidade, que as empresas coloquem essas máscaras disponíveis para seus funcionários.
Então, a gente tem visto um governador combativo o tempo inteiro, e dialogando com a sociedade, através da internet nas lives do ‘Bate Papo Correria’ e também nas entrevistas de rádio e televisão. Ele não tem se furtado de colocar a sua posição política e social de estadista, de um homem comprometido com a saúde e vida dos baianos.
(S.P.): Como vê a postura do governador em manifestar abertamente discordância às opiniões de Jair Bolsonaro, que a todo tempo parece minimizar os perigos da Covid-19? Acha que Rui Costa age da forma certa ou nesse momento, seria melhor não repercutir as falas do presidente e assim, evitar conflitos?
(F.N.): Claro que isso (resposta anterior) entra em conflito diariamente com Jair Bolsonaro, porque ele é um presidente que vai de encontro com o mundo, não só com os governadores. Pois, se todos dizem que a melhor forma de evitar (a propagação do coronavírus) é ficar em casa, o presidente fala totalmente o contrário; anuncia remédios que não foram aprovados pela medicina, desobedece as autoridades da Organização Mundial de Saúde (OMS) e ainda manda projetos para o Congresso Nacional, para retirar direitos dos trabalhadores. Então, é uma pandemia e um pandemônio, o que estamos vivendo. E tudo isso, a gente tem que enfrentar com calma e paciência, mas com firmeza e fé de que vai passar e nós teremos novos tempos e novas batalhas para continuar defendendo os direitos do povo.
(S.P.): Passado o período de isolamento social e com a retomada das atividades comerciais e produtivas, qual deve ser o caminho para a Bahia voltar a um quadro de estabilidade social e econômica?
(F.N.): Passado esse momento de crise, a gente vai continuar trabalhando. Eu acredito muito na força da agricultura, porque se o campo não planta, a cidade não janta, e por mais que os supermercados estejam cheios de produtos embalados e industrializados, tem que ter a obra prima, a matéria prima, que no caso, é a produção de leite, trigo, feijão, milho, dos produtos que são industrializados e transformados em alimentos, e que queremos que sejam saudáveis. Acredito que a agricultura será uma grande fonte de desenvolvimento e provedora de qualquer situação de fortalecimento de nossa economia.