Em entrevista exclusiva, Zé Domingos não descarta saída do PT se partido apoiar grupo dos Jacus

Parlamentar que é atual vice-presidente da casa, também falou sobre sua atuação parlamentar ao longo de três mandatos
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Dando continuidade a um projeto iniciado no ano de 2019, o Sertão em Pauta publica nesta segunda-feira (09), mais uma entrevista exclusiva com um vereador de Cícero Dantas (BA). Dessa vez, o internauta poderá conferir a conversa que nossa reportagem teve com o Vereador Zé Domingos (PT), que durante pouco mais de meia hora, falou à nossa reportagem sobre sua trajetória política, seus trabalhos enquanto parlamentar municipal e também sobre as expectativas para o cenário político na cidade em 2020.

Filho de agricultor e natural da Quixaba, zona rural do município, ele já tem uma longa atuação junto a grupos organizados de produtores do campo, especialmente os que realizam atividades da agricultura familiar. Projetos de irrigação, melhores condições de estradas vicinais e instalação de energia elétrica são algumas das questões mais levantadas por ele, que deixou de representar só os interesses de sua comunidade, para passa a ter uma atuação mais ampla junto à população rural.

Quadro do PT desde 2003, Zé Domingos sempre demonstra orgulho em dizer que pertence ao partido, o que pode ser facilmente notado pelo broche com a marca do partido, que costuma levar colado ao seu paletó nas sessões da Câmara. Apesar dessa fidelidade, ele nos revelou que não descarta sair do partido caso a sigla – comandada hoje por uma tendência distinta da dele – venha a apoiar um candidato a prefeito do grupo dos Jacus, em detrimento do atual mandatário da cidade, Ricardo Almeida (PP), cenário este que vem sendo cada vez mais comentado nos bastidores políticos.

Eleito em 2016 com 820 votos, e em seu terceiro mandato na casa legislativa, ele que hoje também é vice-presidente da Câmara Municipal, deve buscar uma reeleição neste ano e diz que tem o ex-prefeito da cidade Gilmar Santos, da mesma tendência no PT, como uma de suas principais inspirações políticas. Confira a entrevista completa, a seguir:

Sertao em Pauta – (S.P): Como se dá a sua inserção na política, entrando na vida partidária e se candidatando a vereador em 2004?

Zé Domingos – (Z.D): Filho de agricultor, da área rural e vindo de família humilde, o que me interessou na política foi buscar o desenvolvimento da minha comunidade (a Quixaba). Toda a vida, a gente foi desprovido de programas sociais e de força política local para buscar desenvolver a nossa localidade, que era muito próxima à cidade e dava ligação a outras cidades. Então, nunca tivemos água, energia ou qualquer benefício social levados pela vontade política. Nessa situação, por volta de 2002, quando estava sendo disputado o segundo turno da eleição para presidente e Lula ganhou, eu procurei alguém do PT. A gente procurava o grupo que estava no poder na época, que era o grupo dos Gaviões e tinha Arlete como prefeita e nada se fazia, não havia ação pra nada, e esse foi um dos motivos que me levou a entrar na política, buscar primeiro, o desenvolvimento de minha comunidade com energia e água encanada.

A primeira coisa que conseguimos para lá foi a cisterna, de 16 mil litros, pelo programa que na época era das igrejas junto com a pastoral rural, conseguimos atender a localidade com 15 cisternas. Depois, em 2004, eu entrei na política como candidato a vereador e ganhei a eleição, e a primeira coisa que eu fiz, em 2005, foi correr atrás da energia, que chegou em 2006. Quando foi em 2008, aquela comunidade que não tinha água, eu a consegui, através da CERB (Companhia de Engenharia Rural da Bahia), antes de terminar o mandato de vereador. Perdi a eleição em 2008, porque o PT decidiu apoiar um outro lado político, pois eu ganhei a eleição (em 2004) em um terceiro grupo político, que tinha como candidato a prefeito, Herculaninho, e a vice, o Doutor Hélio, e eu fui o vereador mais votado dessa coligação. Então, quando foi em 2008, eu perdi a eleição, pelo fato de o PT ter decidido votar em Weldon (que disputava reeleição).

E eu fui contra ele na tribuna, o tempo todo, e de repente tive que apoiá-lo por uma decisão do partido. Se eu tenho 17 anos no partido, não é por acaso; mantenho a fidelidade partidária pelas decisões conjuntas do PT. E aí, Weldon ganhou, sendo que o vice foi Gilmar, indicado pelo PT. E Zé Domingos perdeu a eleição, por ter subido na tribuna e mostrado os pontos negativos da gestão no primeiro mandato. Quando fui subir no palanque, eu não tinha nem discurso, pois me sentia em uma situação difícil, quem olhava para mim achava que eu estava ali porque eu devia ter ganho dinheiro para subir no palanque de quem eu falei por três anos em meio.

(S.P): Em 2010, no entanto, o senhor assume um cargo de subsecretário na gestão de Weldon. Como é que se dá a sua entrada na administração dele?

(Z.D): Eu fui assumir a secretaria em 2010, com muito esforço do partido para garantir a vaga na questão de assumir uma secretaria, e aí eu assumi daquele período até 2012, quando entreguei o cargo para ser candidato nas eleições daquele ano.

(S.P): E quais os principais desafios dessa passagem como subsecretário de Assistência Social e também atuando um pouco na área de agricultura. O que o senhor pôde trabalhar durante esse período na gestão?

(Z.D): Foi um período curto, pois eu entrei já no final de 2010; no ano seguinte criamos um grupo no município de cadastro do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) para a compra de produtos da agricultura familiar. Foi o primeiro grupo do município, então, muitos agricultores e associações puderam vender merenda escolar já naquele período, dentre outras atividades que pudemos desenvolver como a parceria que fizemos com a associação que fazia exposição no Parque Gouveião; a secretaria se envolveu muito com eles, desenvolvendo em 2011 uma feira muito boa. Além de outras atividades do campo, como o cadastramento da DAP (Declaração de Aptidão do Pronaf), em que o agricultor comprova que vive da terra e assim pode ter acesso a programas de governo, por meio do Banco do Nordeste, Pronaf B … a gente avançou muito nessa área.

Já na parte social, nós criamos o PETI, que é o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, junto com uma entidade chamada Avante, em que fizemos um pacto com o Ministério Público da Bahia, e ainda hoje entra recurso para o município. Depois chega ao município o programa Mais Educação, que é um complemento da educação de jovens e adultos, que antes tiveram alguma dificuldade para estudar. Nós abrimos naquele período, onze núcleos do PETI, para que pudesse atender tanto na sede como nos povoados. Também pegamos a responsabilidade pelo cadastramento das casas na Cavunza, todos os cadastramentos dos beneficiários foram feitos comigo. Essas foram as ações que mais marcaram.

(S.P): Em 2012, quando você ficou como suplente, chegou a ter mais de 500 votos; porém, quatro anos depois é eleito com mais de 800. A que se deveu esse salto de quase trezentos votos, em apenas um pleito eleitoral?

(Z.D): Em 2012, eu perdi por nove votos, fiquei na suplência. Quando eu assumi a secretaria (2010), eu consegui fazer algo que fez aumentar o meu número de votos, já que eu comecei a realizar coisas para outros públicos e pude mostrar mais o meu trabalho. Aí, quando foi em 2016, com o trabalho que já vinha fazendo da suplência assumida em maio de 2015, no lugar do vereador Fofão que faleceu, e como não parava de fazer atividades como o Programa Luz para Todos e a busca por cisternas e água encanada para as comunidades, eu já vinha com o trabalho engrenado. Mas, quando entrei na gestão de Helânio, ele não me deu nenhuma oportunidade, para se ter uma ideia, eu votei no cara e fiz campanha, porém, já entrei em 2015 como oposição a ele.

Assim, como eu assumi o mandato de vereador de 2015 a 2016, eu já estava com uma estrutura parlamentar bem ampla e fui candidato a reeleição, na possibilidade ter um número maior de votos.

(S.P): Então, esse problema com a gestão Helânio foi um dos fatores que te fez apoiar Ricardo em 2016, não foi?

(Z.D): É, porque quando Ricardo decidiu ser candidato, mesmo por um terceiro grupo, que era o que ele queria, a gente (tendência do PT a que pertence Zé Domingos) já havia decidido que entre ele e Helânio para o segundo mantado, votaríamos em Ricardo. Depois, quando Ricardo Já tinha certeza de que votaríamos nele, ele chegou para bater de frente com o grupo de Helânio, o grupo dos Jacus.

(S.P): E como é hoje, a relação interna no PT municipal, onde houve inclusive, eleição há pouco tempo? Há algum racha ou as discussões são sempre internas e o partido segue unido?

(Z.D): O racha do PT aconteceu em 2012, quando Fátima Nunes declarou apoio a Helânio. Ela trabalhou o nome de Gilmar, que era o vice de Weldon entre 2008 e 2012 para que ele fosse o sucessor na prefeitura, só que aí quando chega na hora de ele ser o candidato de Weldon, a deputada não teve o pulso para garantir o nome e cedeu o apoio a Helânio, e quando isso ocorreu o partido rachou, porque esperávamos uma coisa, e ela veio com outra decisão, mesmo nós votando em Helânio, já que não teria outro nome para votar naquele período, quando ele ganhou a eleição contra Zelito.

(S.P): Mas e hoje, como está?

(Z.D): Hoje o vice-prefeito é do PT, e o vereador também é do PT e da base aliada do prefeito Ricardo. Então, hoje a decisão do PT em termos de apoiar ele ou não … eu não sei como está a deputada, a gente não tem nenhum acesso de conversa com ela para saber. Mas, a nossa tendência acha que o PT deve continuar ao lado de Ricardo.

(S.P): Tanto você como Gilmar?

(Z.D): Não, eu posso falar por mim. Até porque eu ainda não sentei com Gilmar para avaliar essa questão. Entre o Ricardo e o grupo de oposição, os Jacus … é um grupo que sempre votou contra o PT; agora mesmo nas eleições passadas votou de cima a baixo e fala até mal do partido. Então, não teria como, no meu ponto de vista, subir no palanque da oposição para dizer que os apoio, prefiro até sair da política, fica difícil essa situação.

(S.P): Então, nesse caso, se a deputada e a parte majoritária do PT apoiar alguém do grupo dos Jacus, Zé Domingos continuaria apoiando Ricardo?

(Z.D): Nesse caso, se a deputada vier a tomar uma decisão de apoio ao grupos dos Jacus, o que ainda não sei se vai acontecer, eu ficarei com Ricardo, e aí terei que avaliar a nível estadual, até onde eu posso ficar no PT, apoiando outro grupo político, contra a decisão da deputada.

(S.P): Queria agora, que o senhor destacasse aquelas proposições das quais mais se orgulha de ter apresentado e aprovado na Câmara.               

(Z.D): Olhe, tem alguns projetos como a Lei do Silêncio, que hoje a Secretaria de Meio Ambiente já faz todo um acompanhamento devido a uma lei municipal criada por mim na época e que foi baseada em legislação estadual e federal. E a lei do silêncio é para qualquer hora do dia, o pessoal diz que é depois das 10h (da noite), mas não, a lei do silêncio é para toda hora, desde que seu vizinho esteja incomodando … tem um aparelho chamado decibelímetro, que a delegacia possui esse controle, junto com a Polícia Militar, e na medida que o som está acima do permitido, a pessoa pode ser multada e até ter o carro apreendido.

Tem um outro projeto de 2015 em que o município de Cícero Dantas ficou impedido de fazer contratação de bandas que venham a denegrir a imagem da mulher e do negro. Caso ele contrate uma banda que faça isso, o município paga uma multa. O nome da lei é anti-baixaria.

E teve outros projetos também, como o de iniciativa popular para o voto aberto. Nós hoje votamos em todas as matérias de forma transparente, a urnazinha em que se votava em segredo hoje não existe mais. Pegamos assinatura da população, pois teria que ter 1% (do eleitorado) para entrar na Câmara como um projeto de iniciativa popular e nós conseguimos. Foi votado contra a decisão de alguns vereadores, mas como foi de iniciativa popular, foi a população que o apresentou junto a nossas intenções. Fizemos uma mobilização em rádio e comunidade, foi votado logo no início dessa gestão.

Tiveram também projetos de associações em que reconhecemos a utilidade pública municipal, e que a gente tem ainda ajudado a encaminhá-las para se tornar de utilidade pública no âmbito estadual. E ainda falando sobre isso, estou com mais dois projetos para serem apresentados nos próximos dias: um que fala sobre a comemoração do Dia da Caatinga, que estamos produzindo com a Secretaria de Educação, pois queremos incluir essa nossa origem dentro da sala de aula, em atividade do ensino municipal, e a outra é uma proposta em que na cidade passe a existir uma porcentagem de arborização de plantas nativas. Vemos muitas plantas introduzidas e não sabemos se faz bem ou mal para o meio ambiente. A gente está trabalhando a possibilidade para que o município, após a provação do projeto, tenha uma porcentagem de arborização de plantas da Caatinga nas praças, na sede e nos povoados.

Por fim, há um outro projeto, que já existe a nível estadual, para o primeiro emprego. Já conversei com o secretário Felipe (de Educação) sobre a possibilidade de incluirmos alunos com boas notas para que seja garantido a eles junto a prefeitura e a CDL, que as lojas da cidade possam abrir as portas aos com melhores notas, em uma faixa etária entre 16 e 25 anos.

(S.P): E como está o seu planejamento para as eleições de 2020? Vai voltar a se candidatar a vereador ou quem sabe, a vice-prefeito?

(Z.D): Não é para querer ser melhor que os outros, mas eu sou um dos vereadores que conhece a realidade dos quatro lados do município de Cícero Dantas, de todas as fronteiras. Para você ter ideia, agora mesmo nós conseguimos um projeto de R$ 3.700.000,00 (três milhões e setecentos mil reais) com o FUNCEP (Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza) do Governo da Bahia, junto ao deputado federal Joseildo Ramos (PT) para atender cinco comunidades como Caxias, que é região de vereadores, e o pessoal me procurou e lá está sendo realizada a tão sonhada obra de água para atender 60 famílias. Conheço os problemas de estradas … posso dizer que todos os problemas do município, pois mais que qualquer prefeito que passe quatro ou oito anos, eu venho de 2003 trabalhando. Comecei pela Pastoral Rural e não é só em uma comunidade, iniciei pela minha, mas depois que ganhei espaço, fui para outras localidades.

Então, hoje para se pensar em ser candidato a prefeito, vice ou até mesmo vereador é preciso ter apoio, se não tiver, não adianta. Eu não tenho nenhuma intenção de ser candidato a vice, porque o cenário político do partido tem hoje o comando na pessoa de Fátima, então não posso dizer que sou candidato pelo PT, porque não falo pelo partido, tivemos as eleições internas do partido, nessa agora não fui candidato porque entreguei a candidatura, mas me passaram que eu a coloquei em uma data após o prazo e não tive condições de concorrer. Então para dizer que seria candidato a vice, só se eu saísse do partido, pois aí teríamos outra conjuntura. Então, meu projeto político, é tentar mais um mandato através de meu trabalho e de meus amigos e ver lá na frente, pensando no futuro, qual a posição que a gente toma dentro do PT, que é onde eu gostaria de continuar, mas do jeito que vai, talvez eu seja obrigado a pedir para sair.

(S.P): Em uma das últimas sessões, alguns vereadores chegaram a reclamar que o Governador Rui Costa não prestigia Cícero Dantas com investimentos e prefere priorizar outros municípios da região. Queria que o senhor comentasse isso. Acha que essa queixa reflete a realidade ou é uma visão distorcida?

(Z.D): É totalmente distorcida, no meu ponto de vista, o governador não vai priorizar alguns municípios. Ele vai priorizar as demandas. Eu sei que Ricardo tem corrido e tem conseguido várias demandas e recursos diretos do Governo do Estado. Alguns vereadores que estiveram em Banzaê na vinda dele, viram o montante de obras e recursos que foram para essa cidade e não vieram para Cícero Dantas, mas esses investimentos também já foram para outras cidades e sobre Cícero Dantas, eu vou fazer um levantamento de investimentos estaduais para lembrar que o governo tem atenção com a nossa cidade. O prefeito tem buscado a partir de pedidos, e tem sido atendido … é claro que às vezes, não foi atendido da forma de outros municípios, mas ainda tem uma gestão do Governo do Estado que vai até 2022 e Ricardo continuando vai ainda estar em parceria.

Eu acho que não era momento para os vereadores dizerem que o governo fecha os olhos para a cidade, digo que é o momento de cada vereador apresentar as suas demandas junto às secretarias do governo, como eu fiz, junto com o deputado. Então, ao invés de falar que o governador não olha para o município, eu pergunto aos vereadores: quantos têm demandas junto a seus deputados e ao prefeito para buscar o governo do estado? Para falar, é preciso primeiro dizer que pediu, que já bateu na porta e não foi atendido. Na próxima sessão, eu vou apresentar uma indicação para as estradas e vou encaminha-la ao prefeito, para que ele tenha na mão a demanda de um vereador e assim, ele possa ser atendido pelo Consórcio do Semiárido Nordeste II, e só se não for atendido é que eu vou poder dizer que esse consórcio não funciona.

(S.P): Para finalizar, queria que me respondesse se o senhor tem alguma liderança a nível nacional, estadual ou municipal, que lhe inspire em sua atuação política.

(Z.D): Olhe, à nível nacional eu tenho a pessoa de Lula, que foi alguém que saiu do Nordeste para São Paulo, uma pessoa que trabalhou como engraxate e às vezes olhava para uma barraca com uma maçã e tinha a vontade de comer e não pedia e nem roubava, mas trabalhava para comprar, mesmo que fosse no final do dia; me inspiro muito nele. E a nível municipal, tenho aprendido muito com Gilmar, companheiro de partido que tem uma visão histórica da política. O PT foi criado com ele e outros companheiros, e apesar de ser funcionário do estado e aposentado do Banco do Brasil, ele tem a política como base. Por mais que ele não esteja no dia a dia da política, ele tem a visão de como as coisas vão funcionar, aprendi muito com ele.

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