Em entrevista ao Sertão em Pauta, Vereadora Aderian cobra mais diálogo da gestão com a população e Prefeito Ricardo Almeida nas ruas

Parlamentar acredita que prefeito de Cícero Dantas precisa visitar mais as comunidades do município e as obras para se certificar como está a sua gestão
Sertão em Pauta
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Dando continuidade à série de entrevistas com os treze parlamentares municipais de Cícero Dantas, no Nordeste Baiano, e em respeito à sequência pré-estabelecida, o Sertão em Pauta publica nesta segunda-feira (13), a entrevista feita com a vereadora Aderian da Maternidade (PP), política que faz parte da bancada da situação e do partido do prefeito, mas que é conhecida por não se eximir quanto a cobranças e críticas à gestão de Ricardo Almeida, sempre que acha necessário.

Natural do próprio município de Cícero Dantas, de origem humilde e da zona rural, Aderian passou a conviver com a política ainda cedo, por conta da atuação de sindicalista da sua mãe, Porcília Maria de Jesus, que foi uma das fundadoras e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município.

Aderian cresceu, se tornou mãe e se formou como técnica de enfermagem, o que a possibilitou uma atuação de 21 anos no Instituto Barão de Jeremoabo, onde funcionava a maternidade municipal. A partir daí passou a ser conhecida como Aderian da Maternidade, pelo seu trabalho na área da saúde e seu comportamento voluntarioso, o que a fez ganhar popularidade na cidade.

A partir de 1996, passou a se candidatar sequencialmente ao cargo de vereadora do município de Cícero Dantas, e experimentou diversas derrotas, antes de, em 2012, conseguir, pela primeira vez, se eleger pelo PT (Partido dos Trabalhadores) e pelo tradicional grupo dos Jacu, do qual acabou saindo dois anos depois, por divergências.

Nesta entrevista ao nosso site, a parlamentar fala sobre seu estilo de fazer política; lembra da sua mãe; coloca a Deputada Estadual Fátima Nunes (PT) como sua maior referência política; comenta o trabalho do prefeito Ricardo Almeida; e sugere que ele necessita entrar mais em contato com a população, por meio de visitas às comunidades e às obras do município. Além disso, a vereadora revela o que causou o seu rompimento com os Jacu, diz ter “limites” quanto à sua continuidade na Situação e afirma que pode sair do PP, caso seu partido dê apoio à Reforma da Previdência, proposta pelo Governo Bolsonaro.

Confira, a seguir, a entrevista completa com a vereadora Aderian:

Sertão em Pauta – (S.P.): Vereadora Aderian, a senhora já tinha uma carreira de mais de 20 anos como técnica de enfermagem, com longa atuação no Instituto Barão de Jeremoabo. Mas o que a fez se decidir por entrar na política e se candidatar ao legislativo diversas vezes, até conseguir a eleição?

Vereadora Aderian – (V.A.): O que levou a ser política foi a vontade de poder ajudar mais. Eu trabalhava como técnica de enfermagem, e a minha trajetória de vida foi sempre no meio do povo. Minha mãe foi presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, e foi quem fundou o sindicato, ao lado das freiras do São José, mulheres que fizeram e fazem caridade aqui em Cícero Dantas, com muito amor. E o que me levou à política, foi realmente essa trajetória política de minha mãe, que também foi candidata a vereadora; e na época, acabou ela quase ganha, mas não atingiu o coeficiente eleitoral, e ela me passou esse cajado de vida que foi sempre ajudar as pessoas. Inclusive, quando eu, às vezes, dia, que não iria ajudar, ela começava a dizer que a gente nasceu para doar, e o que vale nessa vida é tentar ajudar. E estando na política, a gente pode ajudar mais, vai poder defender mais as causas dos mais fracos e menos privilegiados.

(S.P.): Mas esses dois mandatos enquanto vereadora te convenceram realmente, que é possível ajudar mais os cicerodantenses, dentro da política?

(V.A.): Me convenceram, porque pra mim, o poder nunca me elevou. Pra mim, o poder é poder ajudar, então eu acredito que eu faço sempre a minha parte. Apesar de que, existem muitas desavenças na política, além de desentendimentos, mas a gente chega em um denominador comum, que é sempre ajudar as pessoas mais fracas.

(S.P.): Levando em conta as características da pessoa Aderian, a senhora considera, que sua atuação enquanto parlamentar difere do seu trabalho como técnica de enfermagem?

(V.A.): Não, não mudou muita coisa, porque continuo tendo amor à profissão de enfermagem, e eu faço isso todos dias. Eu procuro verificar sinais vitais de pessoas, vou nas casas de pessoas que têm pressão alta, sempre ajudo os meus amigos, e sempre que orientada por um médico, colocar um soro; pra mim isso é prazeroso. E o que me ajudou muito a conciliar essas duas coisas é que pra mim, volto mais uma vez a dizer, sempre é poder ajudar mais. Então, isso conciliou […] de eu chegar em algum lugar e poder representar o povo de minha cidade. Isso é muito importante, pois é sempre o mesmo trabalho, que é o de ajudar.

(S.P.): A senhora já pertenceu ao grupo dos Jacu, mas rompeu com o mesmo, em 2014, durante a gestão do ex-prefeito Helânio, ainda no primeiro mandato como vereadora. O que a fez tomar essa atitude?

(V.A.): A questão é que não houve diálogo, então, era uma gestão que a gente tentava dialogar, mas não conseguia, e isso me entristeceu, por eu não conseguir fazer as coisas, de ir lá para conversar e convencer do que era o certo; sendo assim, em me afastei, pois nessa vida política eu não sou diferente de ninguém, sou um ser humano que sofro. E a gestão, graças a Deus, se levou. Algumas críticas, a gente faz pra construir, mas nunca para denunciar no Ministério Público ou em lugar nenhum. E, mesmo depois de ter saído da gestão, sempre conversei com os secretários, sempre fiz isso e continuo fazendo isso na atual gestão.

(S.P.): Além da falta de diálogo, houveram outras áreas em que a senhora identificou problemas na gestão de Helânio, e que te influenciaram na decisão política de deixar a Situação, à época?

(V.A.): Não, foi por um monte de problemas na saúde e pela falta de diálogo mesmo. Na atual gestão, nós temos problemas na área da saúde, mas nós procuramos a secretária para conversar dizer o que tá errado para consertar. E farei isso até conseguir, apesar de eu não posso transformar sozinha, preciso que as pessoas tenham o mesmo pensamento, ou parecido, pois o que a gente se depara todo dia na política é o individualismo, a gente sabe disso. Somos todos pecadores, não estou dizendo que eu sou diferente. Mas, o individualismo existe, o que não existe, “é” todos unidos pelo bem comum. A gente precisa mudar isso daí, pois no dia que os candidatos, os parlamentares e a sociedade se unir em torno de um bem comum, a gente consegue resolver. Eu sempre acreditei nisso, mas me frustro por não ter esse respaldo junto ao poder público.

(S.P.): A senhora afirma que rompeu com Helânio por causa da falta de diálogo. Além desse problema, caso existisse na atual gestão, na sua opinião, qual outro fator que poderia lhe levar a romper com o atual prefeito Ricardo Almeida?

(V.A.): Essa falta de diálogo, e essa falta de comunicação, que continua ocorrendo um pouco na atual gestão. Todo dia a gente cobra isso daí, mas é porque acreditamos no melhor para Cícero Dantas, e a gente fica batalhando e acreditando que a coisa vai melhorar para poder seguir o rumo que a gente quer chegar, que é o bem da população.

(S.P.): A senhora chega a vislumbrar alguma possibilidade de rompimento com a atual gestão, ou prefere continuar dialogando e fazendo proposições dentro da situação?

(V.A.): O ser humano tem limite; existem vários limites e eu ponho limite em mim até que eu não me prejudique. Então, eu vou dialogar, o prefeito Doutor Ricardo é meu amigo pessoal, mas politicamente ele sabe as questões que aponto e sempre falo pra ele […] nunca disse que eles está certo, quando ele está errado. É uma dádiva da minha vida, que trago pra mim, por minha mãe me dizer para nunca considerar como certo aquilo que esteja errado. Então, pra ele, eu sou uma pessoa que sempre dou conselhos, ele sabe disso, e inclusive faço isso com todos os secretários. Então em algum momento, falta diálogo da gestão com as pessoas. Porque, nós parlamentares fazemos parte da fiscalização, nós temos que dar conta de tudo na vida, dos buracos da rua, “temos” que ser advogada, psicóloga, juíza, promotora, médica, temos que ser tudo nessa vida política, mesmo que nós queiramos que não seja assim, mas a nossa máquina pública sempre falta e as pessoas precisam de nosso carinho e respeito, de até a gente interceder por aqueles que são menos privilegiados e desprezados na questão da gestão, porque a gente precisa sentir na pele o que as pessoas sentem. Eu sei que a oposição faz o trabalho dela, é muito interessante que haja o trabalho da oposição como também o da situação, mas eu me ponho na questão de fazer a minha parte, então ela eu sempre faço. E portanto, digo à sociedade, que quando precisar de mim, eu não vou medir esforços, nem quero saber em quem votou. As pessoas de Cícero Dantas me conhecem, sabem quem eu sou; eu nunca olhei para alguém e disse que ela teria que votar em mim para eu fazer determinada coisa, e jamais vou fazer isso, pois acho que o voto é uma consequência do trabalho que fiz e das pessoas quererem que eu continuar na política. E eu tenho que mostrar o meu trabalho do dia a dia, e não aquela linha de querer se eleger a todo custo. Se for para me eleger, quero me eleger para dizer o que está certo e o que está errado.

(S.P.): A gestão do prefeito Ricardo tem recebidos muitas críticas da oposição, nas últimas sessões da Câmara. Mas, nesses dois anos e meio de mandato dele, a senhora enxerga algo de positivo, que não tenha percebido nas gestões passadas?  

(V.A.): Esta gestão é uma gestão aberta ao diálogo; agora, ele, por ser um político novo, sem muita experiência […] a gente sabe o que é estar na frente de um poder maior da cidade. Assim sendo, ele vai escutar muito os prós e contras; o que eu digo a ele, e sempre dou conselho, como amiga, é de que ele andar, visitar. Isso é importante, uma coisa é o que eu vi, outra é o que me disseram. Então, se eu sou a gestora e eu preciso tomar conta da minha cidade, tenho que estar vendo toda hora o que acontece nela, as obras que eu estou concretizando, o que terminei ou comecei; e ouvir também as críticas da sociedade, porque é preciso ouvi-las, e absorver o que for melhor, desprezando aquilo que não for, mas temos que ouvir sim, porque é a sociedade que precisa do bem, quem necessita. Então, é sempre o que falo ao gestor, ele é uma pessoa nova, que pensa no futuro dessa cidade, e às vezes peca por querem fazer muito pela cidade, obras, obras e obras.

Confira a primeira entrevista do Sertão em Pauta, feita com o presidente da Câmara, Abelardo Júnior (PSL).

(S.P.): Então, a senhora acha que ele fica muito tempo no gabinete e reserva pouco tempo para o contato com a sociedade? Falta ele ter um maior contato com as comunidades?

(V.A.): Ele precisa estar direto com a sociedade, em contato com as obras, tem que estar direto vendo as coisas, porque quando eu vejo, eu demando e faço mais. Ele precisa ir às comunidades, visitar as ruas e conferir como estão as obras, porque às vezes, a gente peca por não ver. Então, quando a gente vê, a gente percebe o que é real, como no caso da obra dessa praça aí (Dos Quiosques), então ele viu que era preciso afastar um pouco, até porque iria ficar feio, ali seria um estacionamento de carros. Então, ele precisa, urgentemente, visitar as obras.

(S.P.): Quem acompanha as sessões da Câmara já percebeu a sua proximidade com a Deputada Estadual Fátima Nunes (PT). Qual a importância desta relação para a obtenção de conquistas para Cícero Dantas?

(V.A.): Não vou falar dela nem como deputada, mas como amiga. Na verdade, gente se criou juntas, a minha mãe e ela eram muito amigas. O trabalho da Deputada Fátima Nunes é o trabalho da formiguinha, demora a dar efeito, mas que hoje já está dando […] as águas no nosso município […] antes a nossa população dependia de carros-pipas, hoje, graças a Deus, ela conseguiu com o trabalho dela obtenção de cisternas para nosso município. Cícero Dantas teve contemplação de mais de mil cisternas, e Ribeira do Pombal não foi contemplado, e hoje a sociedade tem a garantia de beber um copo de água limpa; isso é importante. A minha ligação com a deputada estadual Fátima Nunes vem de origem, de muitos anos, eu nunca deixei de votar nela e jamais vou deixar; será sempre meinha deputada, porque acredito por um objeto em comum, que é lutar pela comunidade, pelo coletivo, então, ela tem o meu respeito.

(S.P.): A senhora tem quase sete anos de atuação como vereadora em Cícero Dantas. Se sente frustrada, por, nesse período, não ter conseguido fazer algo que queria fazer?

(V.A.): Com certeza. Porque a gente acredita em uma coisa, mas quando chega a gente para, pois, as ideias são diferentes, e muitas vezes queremos que as pessoas pensem do mesmo jeito que nós, só que cada um tem seu pensamento. O que me frustra cada vez mais é quando você batalha por um objetivo, e depois se perde no caminho devido a seu individualismo na política, e digo sempre que tenho pretensão da política, mas acredito que ainda tenho uma missão, e se Deus não me quiser nela, não tem problema, vou continuar fazendo o mesmo trabalho; ajudando a quem precisa, esse é o meu ideal.

(S.P.): A senhora falou agora, a respeito do futuro. Para o próximo ano, tem a pretensão de se candidatar como vereadora?

(V.A.): Provavelmente sim, mas também, se o grupo precisar que venha a me candidatar como vice-prefeita, eu estou à disposição.

(S.P.): O seu partido é o mesmo do Prefeito Ricardo, o PP. Pretende continuar nele?

(V.A.): Talvez não, porque eu acredito que a Reforma da Previdência não pode acontecer, e se o meu partido votar favorável nessa reforma, não ficarei no meu partido, pois é inadmissível querer que tirem de quem mais precisa, dos menos privilegiados. Então, tire dos grandes que eles têm muito, mas dos pobres […] como é que um governo quer que quem ganhe um salário passe a ganhar 450 reais; o salário já e de fome, e ganhar menos de um salário? Então, não apoio, e tenho uma dúvida de que meu partido vá votar a favor, e se apoiar não ficarei nele.

(S.P.): A senhora tem ainda mais um ano e meio como vereadora, no atual mandato. Quais as proposições que ainda pretende apresentar na Câmara Municipal?

(V.A.): Eu pretendo muita coisa, pretendo continuar batalhando para que seja colocada aquela faixa de pedestre (em frente à igreja Matriz) […] as minhas indicações que sempre fiz, vou sempre refazer […] a indicação do nome do hospital […] é um orgulho para Cícero Dantas colocar o nome de Doutor Horley porque foi um médico que não fez diferença de pessoas, ele atendia pobre e rico, que foi diretor do hospital e da maternidade, teve a sua própria clínica, uma pessoa que fez muito pela cidade. Então, as minhas indicações vou continuar colocando. Tenho mais vontades, coisas que quero fazer, mas acaba não conseguindo. Mas, precisamos de indicações na área da saúde, que busque a ampliação do acesso à água, para que elas cheguem nos povoados, ainda faltam 52 casas, e a gente fica correndo atrás para que essas pessoas sejam beneficiadas […] então, a saúde é uma área que eu gosto muito e acredito que sem saúde nós não somos nada, até estudar, não estudamos; às vezes povo fala que prioridade é educação, mas não é, prioridade é saúde. Sem saúde eu não como, eu não estudo, nem me divirto. Então, vamos investir na educação? Vamos, mas primeiro na saúde.

(S.P.): Para concluir, queria que a senhora falasse sobre as suas referências políticas que a senhora levou para sua trajetória política?

(V.A.): A minha referência política é a deputada Fátima, não tenho para onde correr. É a minha origem, e a minha origem é realmente em defesa do coletivo, e esse trabalho ela faz, e eu admiro muito ela. A minha referência é de uma pessoa que batalha na vida, sofredora, então é a deputada Fátima Nunes.

Obedecendo à sequência pré-estabelecida com base na ordem alfabética dos parlamentares da Câmara Municipal, o próximo entrevistado do Sertão em Pauta será o vereador Carlinhos (PSL), líder da bancada de situação. A entrevista com ele você poderá conferir na próxima segunda (20).

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