Um artigo escrito pelo historiador e integrante da Direção Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) Valter Pomar, na última semana, a respeito da declaração do Governador da Bahia Rui Costa de que não vê tabu em discutir a cobrança de mensalidades em universidades públicas para estudantes com condições de pagá-las, sugere que a expulsão do político baiano pode ser uma alternativa para “impedir a desmoralização” do partido.
Valter Pomar, no artigo intitulado “O print, o tabu e o Governador Rui Costa”, critica o baiano ao afirmar que ele tem tomado posições que vão na “contramão do que a conjuntura exige” dos petistas e vai ainda mais longe, ao dizer que Rui Costa tem defendido um tipo de política para um tipo de partido que é bem diferente do Partido dos Trabalhadores.
No seu texto, Valter também condena o que considera como “passividade assustada” de parte da direção do PT e diz que o Governo Rui precisa ser um assunto discutido em reunião do diretório nacional do partido em junho. O ponto mais alto da sua crítica, no entanto, é quando sugere que talvez seja necessário “perder um governador, se este for o preço a pagar para impedir a desmoralização e a destruição do Partido”.
A administração Rui Costa tem sido muito criticada por correntes políticas à esquerda e grupos do próprio PT, como a Juventude Nacional, por medidas como o corte do ponto dos professores de universidades estaduais, em greve desde o dia 9 de abril, por reivindicarem reajuste salarial (não concedido desde 2015), maiores recursos para as instituições de ensino e cumprimento dos direitos trabalhistas da categoria.
Confira a seguir, o artigo completo escrito pelo historiador e membro da Direção Nacional do PT Valter Pomar, reproduzido do site Brasil 247, ligado a personalidades e pensadores da esquerda brasileira:
O print, o tabu e o Governador Rui Costa
Segundo acabo de ler em um “print” de um “zap”, o governador Rui Costa acredita que não fez nenhum ataque à Universidade pública.
Segundo o governador, sua resposta à imprensa teria sido de que não vê “tabu” na cobrança de mensalidades, mas que este não seria o melhor momento para tal “debate”, em função do ataque que a Universidade vem sofrendo.
Como o governador Rui, eu também não acredito em “tabu”. Mas acredito em lógica.
Quando o governador aborda desta forma o tema da cobrança, é óbvia qual sua posição de mérito sobre o assunto.
E quando o governador escolhe falar em “tabu” numa declaração à imprensa, é óbvio que ele está fazendo o “debate” exatamente quando a Universidade publica está sob ataque.
Noutras palavras: o governador Rui vai na contramão do que a conjuntura exige de todos nós.
Mas qual a surpresa?
Afinal, não tem sido mais ou menos esta a postura do governador Rui frente à greve dos professores universitários da Bahia, frente à reforma da previdência, frente ao pacote anti-crime de Moro, frente ao governo Bolsonaro?
Não está sendo esta a postura do governador frente às eleições de 2020 e 2022?
Não foi deste mesmo tipo a postura do governador Rui frente ao chamado “plano B” nas eleições presidenciais de 2018? E quem esqueceu sua declaração diante da chacina do Cabula?
Não há surpresa: o governador Rui, ao menos neste momento, está na vanguarda daqueles que defendem um outro tipo de política, para um outro tipo de Partido, bem diferente do que é o Partido dos Trabalhadores.
Como não acredito em “tabu”, só posso dizer que já assisti este filme antes. Inclusive no que toca à passividade assustada de boa parte da direção do Partido.
Afinal, é óbvio que a ótima nota da Juventude do PT deveria ter sido assinada pela executiva nacional do Partido.
O Diretório Nacional do PT, que vai se reunir em junho, terá que enfrentar o assunto. E se for necessário, o Congresso do Partido terá que fazer o mesmo.
E, como diria o Rui, não vejo “tabu” em perder um governador, se este for o preço a pagar para impedir a desmoralização e a destruição do Partido.
Mas espero, sinceramente, que o desfecho não seja este.
Espero que o desfecho seja aquele descrito em uma nota (em construção) assinada por petistas da Bahia: “Rui foi eleito para um mandato a partir do Partido dos Trabalhadores e a partir do esforço da militância petista baiana. Por esse motivo, esperamos do governador que faça valer o seu mandato, restabeleça o ponto dos professores grevistas, reabra os canais de diálogo e negociação, representando, assim, os anseios do seu partido e de todos os trabalhadores e trabalhadoras, e que respeite sua biografia enquanto ex-sindicalista e egresso dos movimentos sociais e da classe trabalhadora”.