Considerada um monumento sagrado para os povos de terreiro, a Pedra de Xangô, em Cajazeiras, vai ser duplamente homenageada este ano. Além da tradicional caminhada que reúne centenas de pessoas e acontece há 10 temporadas, uma sessão especial no plenário da Assembleia Legislativa da Bahia, no dia 5 de fevereiro, às 9h, pretende despertar sociedade e parlamentares para a importância e os problemas que fizeram do local até recentemente alvo de ataques e preconceito religioso.
Promovida pelos deputados estaduais petistas Jacó e Fátima Nunes, em parceria com a Comissão Especial de Promoção da Igualdade, a sessão inédita tem entre seus objetivos o fortalecimento das lutas do povo de santo. “Intolerância não, respeito sim”, prega Mãe Iara de Oxum, uma das guardiãs e defensoras do monumento. Para Ekedi Gil, a Pedra de Xangô é um patrimônio dos orixás e da Bahia. No evento na Alba, serão homenageados babalorixas e ialorixás que contribuíram com a luta em defesa da pedra.
“O nosso objetivo nessa sessão é visibilizar ainda mais a luta do povo de santo, das religiões de matriz africana, principalmente no combate ao preconceito, para que haja o respeito à religião. Nós seres humanos estamos no mundo para desenvolver cada vez mais a cultura da paz, respeitando o espaço, a religião, a fé do outro. A Bahia, a primeira capital do Brasil, é a nossa Roma negra. Essa será nossa homenagem à Pedra de Xangô e contamos com a presença de todos. Vamos juntos, cada vez mais, pregar a paz entre os seres humanos”, pontuou a parlamentar Fátima Nunes.
“A Pedra de Xangô é um monumento das religiões de matriz africana que vem sendo atacado por atos de intolerância religiosa, preconceito e especulação imobiliária. Saudamos a Caminhada de Xangô porque é um movimento de resistência e de preservação do patrimônio da cultura afro aqui na Bahia, que precisa ser valorizado. O nosso mandato defende e participa dessa luta”, afirma o deputado Jacó.
11ª CAMINHADA
Antigo refúgio de negras e negros escravizados, o local onde antes existiu o Quilombo do Urubu ganhou a partir de 2005, o nome de Avenida Assis Valente e os holofotes do mercado imobiliário. É ali onde fica a Pedra de Xangô, tombada desde 2017 pela Prefeitura de Salvador como patrimônio cultural. Circundada por muito verde, está inserida numa Área de Proteção Ambiental (APA).
Nesse período, a Pedra de Xangô não foi implodida, mas ficou exposta ao vandalismo. No dia 10 de novembro de 2015, oferendas foram destruídas, o monumento pichado e uma quantidade grande de sal grosso ali encontrada. Falta de policiamento e iluminação incomodam. Situação que a comunidade espera ver revertida com a inauguração do Parque em Rede Pedra de Xangô, previsto no Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) do Município.
A 11ª Caminhada da Pedra de Xangô ocorrerá no dia 9 de fevereiro. Povos de terreiro, caravanas do interior, turistas e moradores reunidos de branco nas primeiras horas da manhã, no Campo da Pronaica, em Cajazeiras, partem para um ritual que inclui rezas, cânticos ao som de atabaques, banhos de alfazema e distribuição de crisântemos em torno do monumento. Neste domingo (2), Dia da Festa de Iemanjá, a limpeza (ou Osé) começa com a ajuda de carros-pipa e a coleta de lixo.
Com informações de Assessorias.