Nesta semana, no espaço “É Mito ou Verdade”, nós vamos abordar um dos assuntos que mais são alvos de discussão entre pessoas que são portadoras de diabetes: a alimentação.
Quem sofre com esse problema está impedido de consumir doces? Essa regra se inverte no caso de alimentos salgados, ou não tem nada a ver? E aqueles produtos Diet são realmente confiáveis? Esses questionamentos serão respondidos por Ébano Araújo, renomado nutricionista da Clínica Seclin, que além de tirar as dúvidas mais frequentes a respeito do assunto, vai trazer maiores explicações sobre o impacto de altas taxas de açúcar em nosso corpo.
Na entrevista, que você vai poder conferir a seguir, ele destaca que uma alimentação equilibrada e responsável poder ser o principal passo para a superação do problema, e a longo prazo, para uma vida sem a necessidade contínua de medicamentos. Ele também faz importantes alertas sobre tipos de alimentos, que muitas vezes, não consideramos tão nocivos.
Confira o bate-papo a seguir:
Sertão em Pauta – (S.P): Comer muito açúcar causa diabetes?
NÃO É BEM ASSIM
Ébano Araújo – (E.A.): Isso não é uma regra, algumas pessoas tem uma maior predisposição a desenvolver diabetes. Nesses casos, o excesso de açúcar vai potencializar essa predisposição e antecipar o que seria um futuro diabetes e não só o açúcar comum de mesa como também os derivados e os açucares disfarçados nos alimentos. A predisposição pode se dar por fatores genéticos, como o histórico familiar de casos de diabéticos na família, ou por pessoas que tem maus hábitos como sedentarismo e que fazem alto consumo de carboidratos ‘’açúcares’’.
(S.P): Quem é diabético não pode mais consumir doces?
MITO
(E.A.): Existem vários estágios do diabetes, como também diversos tipos. O mais comum é o diabetes tipo 1 e tipo 2, o tipo 1 é uma falência das células beta pancreáticas, produtoras do hormônio insulina. A insulina é a maior responsável pela regulação da glicemia (nível de açucares no sangue), nesse caso a pessoa dependerá sempre da medicação da insulina. Portanto, ela não é proibida de comer doces para sempre, mas, sempre terá uma restrição, consumir com cautela, pois tudo vai depender da dieta como um todo, e dos ajustes da quantidade de insulina a ser tomada diariamente.
Só lembrando que o uso de insulina é muito incômodo pois é um hormônio e só existe na forma injetável, são pequenas agulhas aplicadas diariamente, ou em alguns casos várias aplicações ao longo do dia, que geralmente são feitas no tecido subcutâneo da barriga, e quanto mais alto o nível de açucares maior será a medicação pata que as taxas de glicose no sangue fiquem normalizados.
Normalmente, o diabetes tipo 1 já se manifesta na infância, ou no mais tardar, na adolescência. Já o diabetes tipo 2 se manifesta mais comumente a partir dos 40 anos de idade e está muito mais vinculado aos maus hábitos alimentares e ao sedentarismo.
Nesse caso, uma pessoa que tem histórico familiar de diabetes tem uma maior predisposição a desenvolver diabetes tipo 2 e aí, não necessariamente o indivíduo tem uma falta de produção de insulina. É mais comum uma resistência insulínica; produzimos insulina, mas o corpo começa a não reconhecer essa insulina, mesmo que o pâncreas produza altas quantidades, a glicemia permanece alta na corrente sanguínea, e é mais comum o uso de medicação oral que são os hipoglicemiantes.
Esses indivíduos também não estão proibidos de consumir doces, porém, precisam ter muita cautela, pois quanto mais doces, mais glicose é produzida e assim pode se criar uma maior resistência, o que pode levar o diabético tipo 2 a também fazer uso de injeções de insulina; o segredo é um equilíbrio.
(S.P): E quanto a alimentos salgados, como massas? Não há nenhuma restrição?
NÃO É BEM ASSIM
(E.A.): Essa pergunta é interessante, pois o fato de falar que o alimento é salgado não quer dizer que ele não tenha açucares.
Como exemplo, o sal não tem açúcar, porém estamos falando do sal sozinho, agora massas como pão, arroz, macarrão, pizzas, biscoitos, mesmo que sejam integrais contém carboidratos, que depois que consumidos, vão ser digeridos e como produto final se transformam em glicose na corrente sanguínea, popularmente conhecida como açúcar.
Dessa forma, os diabéticos têm que tomar cuidado com esses alimentos, não é porque não seja doce que ele não se transforme em açúcar.
(S.P): Produtos Diet são apropriados para diabéticos e, portanto, não comprometem a saúde destes?
MITO
(E.A.): Essa também é uma questão interessante; produtos diets foram criados no intuito de amparar pessoas diabéticas que não podem comer nada com açúcar. Com isso, a indústria criou mecanismos químicos para deixar alimentos doces, mesmo sem a adição de açúcar.
Porém, devemos ter muita cautela com esses produtos; alguns tipos de adoçantes hoje, já são considerados piores para a saúde que o próprio açúcar em si. O fato do produto ser diet também não quer dizer que ele não tenha açúcar, pode até ser que não tenha sido acrescentado açúcar em sua produção, mais por si só o mesmo já contém, como por exemplo, o suco de laranja diet sem adição de açúcar, no qual a laranja em si contém boa quantidade de açúcar e a gelatina de goiaba diet, onde a própria goiaba por sua natureza, também têm açucares.
O maior problema é vermos produtos que não tem sabor algum e por conta de aditivos químicos, são enriquecidos de sabor, como um falso adocicado proveniente de uma frutose química.
(S.P): A mudança de rotina alimentar e a adoção de uma dieta especial podem levar à cura da Diabetes?
VERDADE, MAS…
(E.A.): Como ressaltado em resposta anterior, o diabetes tem diferentes tipos e estágios da doença, isso vai depender muito de cada caso. Em muitas situações, é necessário que o diabético seja medicado e tenha que fazer uso de remédios por toda vida. Em outros casos, ele pode receber uma medicação inicial, e mudando os hábitos, aderir a uma dieta individualizada. Assim, caso seu corpo venha a apresentar melhoras, esse paciente, depois de uma avaliação médica, pode sim deixar de usar a medicação; por isso, é necessário ficar sempre observando a evolução dele.
Em outros casos nos quais o paciente apresenta uma hiperglicemia, ou seja, quando os níveis de glicose estão acima dos valores de referência de exames, já fazemos uma intervenção com uma prescrição dietética individualizada aliada a mudanças de hábitos para que esses pacientes possam viver qualitativamente sem a necessidade de medicação.
Tudo é uma questão de escolha, sempre ressalto para meus pacientes que a alimentação pode ser sua melhor amiga como também a pior inimiga. Vamos fazer o certo e que esse alimento seja nosso melhor combustível para uma maior qualidade e longevidade de vida.
Ébano Araújo é nutricionista (CRN5 11948) e educador físico (CREF 010766/BA). Ele também é pós-graduado em Nutrição Clínica Esportiva. Ébano atende, atualmente na Clínica Seclin, situada na Avenida ACM, 447, em Cícero Dantas.