Cicerodantenses reclamam da falta de medicamentos na rede municipal; Farmácia Básica afirma que lote de licitação chega em dez dias

Moradores de Cícero Dantas que precisam do consumo contínuo de alguns medicamentos alegam que não conseguem os mesmos, mas a farmácia pública diz que licitação já foi feita e deve garanti-los em breve
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Moradores da cidade de Cícero Dantas, no Nordeste Baiano, que necessitam do uso contínuo de medicamentos para o tratamento de diferentes problemas de saúde têm reclamado desde o início do ano de 2019, da dificuldade para a obtenção destas medicações na Farmácia Básica Municipal.

Essa tem sido a constante para pessoas portadoras de hipertensão arterial, doenças crônicas, de problemas de ordem psíquica; e de crianças com microcefalia e hidrocefalia.

SITUAÇÃO DE DESESPERO

O Sertão em Pauta conversou com algumas delas, para saber quais medidas alternativas têm sido tomadas para não não colocar em risco os tratamentos e para saber quais respostas elas obtiveram das autoridades públicas, a respeito do problema.

Uma das pessoas que enfrenta essa realidade é Maria Dantas, 45 anos, que sofre com uma doença crônica há 5 anos, e chega a gastar por mês, R$ 500, só com remédios em farmácias particulares. “Há dois anos, tenho procurado o poder público para conseguir os meus remédios, que são vários, mas nunca consegui. Tenho que tomar vários, alguns, inclusive, são fórmulas e o pessoal da farmácia diz que não fornece fórmulas, mas mesmo os que não são, eu não consigo pegar”, relata.

A mulher, que perdeu recentemente o benefício previdenciário do INSS, chama a atenção para o peso da falta do fornecimento dos remédios em seu orçamento. “Eu também tenho que arcar com despesas de viagens para Salvador, onde faço o meu tratamento, e não posso ficar de jeito nenhum sem os remédios. Tem um que não é formula, mas que preciso tomar sempre para conter uma dor de cabeça forte que tenho”, conta a mulher que tem uma neta de quatro anos que precisa tomar injeções a cada 30 dias, para evitar crises alérgicas a picadas de inseto, mas, da mesma forma, não tem encontrado a medicação na farmácia

Ana Clara* (nome fictício, pois o entrevistada preferiu não se identificar) tem um filho de três anos com hidrocefalia – acúmulo de líquido dentro do crânio – e afirma que a irregularidade da concessão das medicações e utensílios para cuidar da criança, atrapalha o tratamento: “Preciso de sondas e de medicamentos, e em uma semana consigo, e na noutra não; isso prejudica muito os cuidados do meu filho”.

O filho de Ana Clara* necessita tomar um remédio chamado Oxibutinina, utilizado para aliviar dificuldades urinárias e que segundo a mãe, serve para desenvolver a bexiga da criança. De acordo com ela, na Farmácia Básica, só há o comprimido em comprimidos, e como o menino tem apenas três anos, seria necessário a obtenção da substância em gotas. “A bexiga de meu filho é neurogênica, ele usa sonda e precisa desse remédio para desenvolver a bexiga; a dele tem apenas 2 centímetros (cm) e deveria estar com 20 cm, mas com esse mediamento a bexiga começa a esticar, então ele não pode ficar sem isso … tem que tomar duas vezes por dia”.

Receita médica, na qual está prescrito medicamento para o filho de Ana Clara

Quem também conversou com o Sertão em Pauta foi José Paulo* (nome também fictício, pela mesmas razões da segunda entrevistada), cuja mãe, de 72 anos, sofre com distúrbios de ordem psíquica e desde dezembro de 2018 está sem conseguiu remédios na farmácia gerenciada pela administração municipal. “Minha mãe precisa de várias medicamentos, dentre eles o Melleril, o Sertralina e o Aprazolam, e não tenho encontro mais eles lá. Acho essa situação terrível, me sinto lesado, pois a disponibilização está estabelecida em lei. Fiquei sabendo até que muitas pessoas vão procurar os vereadores para ver se os ajudam a obter o remédio, pois não encontram na farmácia; isso é um absurdo! Como ficam aqueles que não tem contato com um vereador, conseguem como?”, pergunta, indignado.

José ainda ressalta que com esse quadro, a solução é arcar com os custos dos medicamentos do próprio bolso. “Estou comprando em uma farmácia, porque ela não pode ficar sem tomar, vou comprando e deixando lá registrado para depois pagar”.

LICITAÇÃO DESERTA

O presidente do Conselho Municipal de Saúde Jadilson Batista diz que as reclamações a respeito da falta de remédios surgiram a partir do início do ano e se referem a medicações da rede de atenção básica e aos voltados a transtornos mentais. “Nesse ano de 2019, foi feita uma licitação para a compra de remédios, mas como não apareceu nenhuma empresa interessada, ela foi considerada deserta. Falei que como os remédios que faltam, são considerados imprescindíveis e de uso contínuo, poderia ser feita uma dispensa, mas isso não foi realizado”.

REMÉDIOS DEVEM CHEGAR EM BREVE

O Sertão em Pauta foi à Farmácia Básica do município e conversou com a coordenadora de Assistência Farmacêutica Rosa Andrade. “Como o próprio nome diz, essa é uma farmácia básica, então não tem aqueles medicamentos voltados para o tratamento de casos mais complexos, porém, sempre que alguém vem aqui e não há o remédio, nós realizamos uma consulta ao elenco de medicação do Dires (Diretoria de Informação em Saúde da Bahia), e caso não tenha lá, encaminhamos o caso à secretária (o caso de Ana Clara se enquadra aqui) para que, de alguma forma, se obtenha a substância para o paciente”, explicou ela.

Questionada sobre a ausência dos outros medicamentos mencionados na reportagem, a coordenadora mostrou à nossa reportagem uma lista de produtos farmacêuticos (incluídos, neste caso, os relativos a distúrbios mentais) que foram adquiridos a partir de licitação ocorrida no último dia 16 de abril, no modelo de pregão. “Já tínhamos feito duas licitações neste ano, visando a compra de remédios, mas as duas deram desertas. Felizmente, nesta terceira conseguimos sucesso, e recebi hoje, aliás, a planilha realinhada, com tudo de acordo com o que foi estabelecido no pregão, e em dez dias úteis os remédios estarão chegando”, esclarece Rosa, ao lembrar ainda, que todo ano, os remédios solicitados pela população, e que não se encontram no elenco do município são registrados para compra na licitação seguinte.

A lista não pôde ser divulgada até o momento por ser considerado um documento de uso interno; mas o nosso site apresentará um ofício com o objetivo de demonstrá-lo, em sua integralidade, aos nossos internautas.

Quanto aos medicamentos de hipertensão, Rosa Andrade falou que os remédios estão disponíveis na rede municipal. “Às vezes, eles realmente faltam aqui na Farmácia Básica, mas podem ser encontrados nas 14 unidades de saúde que temos espalhadas pelo município. Isso acontece porque muita gente tem o vício de pegar o medicamento só aqui, na central, mas quero deixar claro que eles também podem ser obtidos nos postos de saúde instalados nos bairros, próximos da residência das pessoas”.

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